top of page

Suspiro de Primavera

 

Mais um tronco tombou
Nas artérias de betume
Espraiando sua preciosa seiva pelo chão...
O carrasco com seu rosto iracundo
Olhou-me com a serra na mão
Nada pude fazer para evitar a

barbárie.

 

 

O sanhaço pousou

Meio ressabiado em cima do poste

E fitou o vazio com seus olhos marejados

Depois se despediu com um canto choroso

 

Degolaram o velho ipê 

Que ornamentava a Rua Barão de Cotegipe

Com as flores da poesia
Que nas tardes da infância
Quando eu seguia a caminho da grei
Ofertava um banquete às minhas retinas.

 

Até hoje sinto sua fragrância inefável
Afagando minhas narinas
Quantos versos me ofertou
Nos dias de silêncio e solidão
Quando o mundo me desterrava em Lo-Debar.

 

A primavera chegou ao som dos violinos
Mas só encontrou as flores da saudade
Na calçada vazia do meu pobre coração
E o vento hibernal dimanando um cheiro de morte.

 

                Luciano Dosanjos

 

 

          

 

bottom of page